Na leitura deste dia saiu a passagem da 2ª. Carta de S. Pedro, 3-11:
“O divino poder… concedeu-nos todas as coisas que contribuem para a vida e a piedade.
…
Por este motivo é que, da vossa parte, deveis pôr todo o empenho em juntar à vossa fé a virtude, à virtude o conhecimento, ao conhecimento a temperança, à temperança a paciência, à paciência a piedade, à piedade o amor aos irmãos; e ao amor aos irmãos a caridade.
Se tiverdes estas virtudes e elas forem crescendo em vós, não ficareis inactivos nem estéreis, relativamente ao conhecimento de Nosso senhor Jesus Cristo.
…”
Fé já temos, mas teremos de lhe juntar a virtude…o conhecimento…a temperança…a paciência…a piedade…o amor…a caridade, tudo em crescendo, caminhando para maior perfeição e realização pessoal.
A última paragem
Antes do Monte do Gozo fizemos uma última paragem no alto de uma encosta que se desbobina primeiro por entre loureiros e carvalhos em subidas acentuadas, e, depois, por entre tojos e pinheiros. O caminho torna-se mais rústico e despido, a paisagem menos verdejante, própria de monte. Foi aqui que a Sofia foi contemplada com uma singela coroa de silva, a lembrar que “não há amoras sem espinhos”, e que as boas conquistas também têm os seus custos.
Não há amoras sem espinhos...
Passam ciclistas a caminho de Santiago. E passa uma airosa moça em sentido contrário. Fiz-lhe sinal de boleia ao contrário, indicando que Santiago não era para ali.
Respondeu que “É outro o méu caminho!...”.
Caminhos… Sim, cada qual tem o seu, o que importa é descobrir qual é.
Pouco adiante deparámos com a “rede das cruzes”: entretecidas na malha da rede que separa o caminho da estrada estão centenas de cruzes de todos os tamanhos que os peregrinos vão colocando à medida que chegam. Também lá deixámos as nossas, pequeninas…sob a vigilância de Santiago, representado no marco que, pouco abaixo, indica estar próxima a cidade do Apóstolo.
Mas ainda nos aguardava a singela vista de uma família completa que, de bicicleta, enfrentava as últimas subidas: o pai, que rebocava o carrinho com a filhota de uns dois anitos, a mãe e o filho mais velho, de uns sete e que, garbosa e confiantemente ora seguia ora antecedia os progenitores na sua mini roda 20!...
Pusemos o último carimbo do Caminho na capela de S. Marcos e, por opção do grupo, não atravessámos o albergue mas contornámo-lo, descendo para a cidade.
Fomos tirando “bonecos” e andando. Já estavam esquecidos os momentos de dificuldade, nem o João C. se lembrava das queixas do seu joelho (esquerdo ou direito, João?), nem o Fábio da falta dos ténis, nem eu do telemóvel.
E, finalmente, o sol começava a espreitar!
No centro de Santiago
Na chegada à Praça do Obradoiro fomos recebidos pelo disparar de flashes por parte daqueles que vêm de carro e que não resistem a fixar a lembrança dos grupos que vão vendo chegar.
Entrando na Praça do Obradoiro
Saltámos, abraçámo-nos, cantámos…
A Catedral...
Alegria e emoção
Fizemos a nossa última roda… rezámos… e ali ficámos um pouco, colados ao chão, comovidos, retendo lágrimas teimosas, e enterrando definitivamente todos os nossos trabalhos do Caminho. Mas apenas os daquele porque o verdadeiro Caminho começava nesse momento. Um termina ao chegar, o outro inicia-se ao partir.
A última roda
Os nossos bordões do Caminho, apontando para a concha, indicam a nossa união, indicam a chegada, mas a parte exterior, apontando em todas as direcções, indicam a partida, o sentido de todos os pontos cardeais para onde deve seguir a nossa Mensagem .
As direcções da Mensagem
À entrada do albergue aguardava-nos a última surpresa: quando nos dirigíamos à recepção vislumbrámos por uma porta entreaberta, ao fundo da sala de refeições, nada menos que o Gerhard!... Sim, o Gerhard, que encontrámos o ano passado na primeira etapa, vínhamos desta vez encontrá-lo depois de terminada a última!...
Ficou como nós: pasmado e admirado! Não era para menos.
Trocámos cumprimentos, informações, e combinámos encontro para o dia seguinte, ao pequeno-almoço.
Tinha passado a tarde, passou a noite e veio a manhã: foi o sexto dia.
1 comentário:
não posso permitir que este dia não tenha qualquer comentário. foi o dia da "grande" chegada, da tão esperada chegada a Santiago e não há ninguém que comente o resumo fotográfico deste dia!!
foi um dia particularmente emotivo. soube bem! começando pelo fim, soube bem aquele banho de água quente durante 1001 minutos, partilhando uma conversa agradável com a Rita e a Mariana através dos cubículos dos chuveiros. soube bem partilhar a ceia numa conversa que fluía naturalmente entre todos nós. e dormir?!? dormir soube TÃO BEM, ouvindo a chuva bater do lado de fora da janela, embalada pela música que me enchia ou ouvidos e aconchegada no saco-cama com aquele cobertorzinho por cima.. :b
o momento da chegada foi um misto de emoções. um querer e não querer de sentimentos tão contraditórios quanto eu própria me apercebia estar naquele momento. foi uma meta que automaticamente se tornou uma partida. um desafio!
a etapa... repleta de sorrisos e aspirações. repleta de desejos, ansiedade, orgulho, sono... cumplicidade!
o monte do gozo!! o reconhecimento do local onde me propus fazer o Caminho, volvidos já 2 anos... um orgulho de mim mesma por ter conseguido cumprir o desejo, um orgulho de todos nós por estarmos ali, a adiar a chegada mais uns instantes - tantos quantos pudessemos!
que dizer?! já lá vão 3 meses quase. e é bom recordar, mas melhor ainda é seguir em frente! e eu orgulho-me (muito orgulhosa, eu sei...), mas orgulho-me de dizer que segui em frente - em todos os aspectos que podia - e estou a "aprender a ser feliz"!
e sabem?! sabe tão bem... :)
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