Chegamos, prontos para partir!

Permitam-me, antes de mais, agradecer com uma lágrima ao canto do olho (sim, começaram as lamechices) a vossa presença no nosso Caminho. Aliás, o Caminho é também vosso, fizeram parte dele, foi o saber que cá havia quem estivesse connosco, a torcer por nós, e quem estivesse sem nós a querer torcer-nos, a vossa presença foi o nosso alento.

Pormenores sórdidos? Aquelas coisas depois das luzes apagadas? As camas a ranger? As private jokes? Lamento... são nossas!
Mas embora as bolhas, as dores musculares e as cabeçadas nos beliches sejam só nossas, a vontade de ir mais além, de voltar, de partir agora e trilhar o nosso Caminho, de sorrir e de nos libertar do supérfluo, de tudo o que pesa e não é essencial, tudo isso, é partilhado e para partilhar!

Não me vou alongar muito (hoje, porque a minha cama espera-me e amanhã o dia começa bem cedo e com educação física), mas tenho de dizer que conto com cada um de vós, os que foram, os que ficaram, os que vão, para me ajudarem a continuar a caminhar, a não me perder em atalhos, em saber distinguir o que devo ou não levar na minha 'mochila'.

E antes de deixar um excerto que só o brilho nos nossos olhos, o sorriso nos nossos lábios e a força da nossa voz pode explicar, vou deixar algumas das frases que marcaram este Caminho:

"A do Fábio encolhe com o calor."
"Já não aguento mais o pau no ar" diz o Carlinhos mesmo em frente à catedral
e...
"Palavra do Senhor" com toda a pujança, tal como a Sofia na Vigília

Agora o excerto, difícil de escolher...:

"Tenho as asas que me dão liberdade
para atravessar montanhas só preciso ter vontade...

Vontade de ir mais além,
de dar esta mão a alguém,
olhar o céu e ver
o que não estou a perder quando tenho
vontade de ter um gesto,
ser fonte no meio do deserto
trazer o longe aqui ao pé
e não me deixar ir com a maré"

Chegar não é mais do que partir, agora cabe a cada um nós ter a coragem de fazer de cada dia, um dia de Caminho onde apenas levamos o essencial, onde apreciamos cada detalhe, onde não desistimos, onde furamos bolhas e nos entregamos à letra de uma canção enquanto esquecemos a dor no joelho. Dói, mas faz crescer!

e... quem trouxe estes gajos com a mania de fazer blogs a falar nós? Quem trouxe?

As fotos dos dias anteriores

1º dia: A Sofia, na viagem de carro para Sarria, a "descansar os olhos"... depois, uma extraterreste provocava-lhe uma irritante comichão no nariz, com a qual ela acordava estremunhada, perguntando-se: "Em que planeta estou?!? Que extraterrestres são vocês?!?"

2º dia: os peregrinos no seu caminho...

3º dia: a gaiteira de serviço...

4º dia: A chegada!

4º dia: Melide - Arzua (13,6 km)

"Escorraçados do albergue, demos conta da sapatilha encolhida! Com S. Paulo, continuamos os nossos trabalhos. À lareira, cantamos, secamos e comemos!"

Secadores que encolhem sapatilhas e mudam a côr da roupa, escorraçados do albergue (deve ser porque estavam a cumprir o horário de saída, concerteza...), e muita alegria, os nossos peregrinos continuam a sua aventura!

Chegaram as prometidas fotos!

3º dia: Palas de Rei - Melide (14,8 km)

"Começamos inspirados pela música, continuamos molhados pela chuva. Regalamo-nos com um belo jantar cozinhado PARA nós, e terminamos na boca do lobo!"

"... jantar PARA nós..." porque nos restaurantes também há comida!
"...na boca do lobo..." porque jogar ao lobo é muito divertido!

2ª dia: Portomarín - Palas de Rei (24,5 km)

"Anda, peregrino, sobe que sobe, sobe essa estrada. Chuva que refresca as espanholas desnudadas. Para jantar, uma massada!"

Os nossos peregrinos continuam o seu caminho. Está tudo bem, apenas as normais dores musculares...

Já há a promessa de fotos!

1º dia: Sarria - Portomarín (22km)

Os nossos peregrinos caracterizam o 1º dia assim:

Subidas íngremes
+ bosta enlameada
+ bolhas, caimbras e alergias
+ refeições frias
= banho quente + entusiasmo crescente!

Ainda não há fotos :(

O início de mais uma aventura

E pronto... mais uma aventura começou, para oito peregrinos. A Rita, a Mariana, a Marta, o Fábio, o Carlos, a Sofia, o João A., e o João C. partiram hoje de Sarria em direcção a Santiago de Compostela, percorrendo parte do caminho francês de Santiago.

É o concretizar de um sonho que nasceu, para alguns, no ano passado (quando fizeram o caminho português, a partir de Valença); para outros, foi nascendo ao longo dos últimos meses. Com muito trabalho e preparação, partiram hoje, após algumas horas de viagem.

Confirmaram há pouco (21h20) que já tinham chegado ao albergue onde vão poder descansar!
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"O Caminho: 2007 / A Caminho: 2008

Valença Porriño Redondela Pontevedra Briallos Padron Santiago.

As primeiras impressões desta peregrinaçao...
Uma certeza: é impossivel descrever, há que experimentar (como tudo?). Imaginei várias coisas antes de partir, umas concretizaram-se mas a maioria não. Imaginei uma caminhada marcada por sofrimento físico, de joelhos sofridos e músculos cansados porque nada habituados... Imaginei que chegar ia saber mal por não querer que acabasse... Imaginei que a meditação ia assumir contornos formais, já familiares... Mas parti, definitivamente, de coraçao aberto, lavado de expectativas ou preconceitos.
Alguém referia os "impulsos de ânimo, alegria e coragem"... acho que se somarmos a partilha (ou amizade), temos a melhor sintese do peregrinar. De facto descobri que fazer o caminho é uma enorme fonte de alegria, de momentos de enorme paz, de um prazer indescritivel... ao percorrer campos e veredas, ou mesmo estreitas bermas de estradas com condutores acelerados, com sol, chuva ou ambos, ao vencer todos os pequenos desafios, ao descobrir todos os pequenos pormenores, ao cumprimentar todas as pessoas e todas as aves, em cada gole de vinho (e mesmo em cada barra de cereais ou pedaço de chocolate), em cada instantes pseudo-espiritual (as nossas reflexoes mais ou menos partilhadas), ao viver cada momento, passo após passo... enfim, sei que não consigo mesmo transmitir! Há que experimentar.

Ao chegar à catedral, 6 etapas depois da partida, foi o momento da benção, foi o momento da grande emoção, seguida daquela serenidade em que surge o agradecimento, a reconciliaçao, com a alegria das canções daqueles já amigos percorrendo-me a alma... E a formulação íntima do único pedido possível: voltar!

Ganhou luz aquela expressão que tinha cintilado durante o caminho: "mais do que passar pelo caminho, ha que deixar o caminho passar por nós" e "chegar a santiago nao é o fim, é o principio". É..., há coisas que só se descobrem por nós proprios..."
(A.S.S)

A CAMINHO: 2008

Ao imprimir os últimos textos e jogos, ao escolher as músicas para o cancioneiro, procurando o essencial do meu mundo, fazendo-o caber numa mochila, começo a sentir um friozinho na barriga. 114km esperam-me, cada passo é um desafio que espero superar sempre olhando em frente, olhando à volta, apreciando a beleza do não-superfluo.
Na mochila levo muito mais do que três t-shirts e dois pares de meias, levo toda a bagagem da minha vida. Espero conseguir deitar fora tudo o que pesa e não é essencial.
Nos olhos levo o brilho, nos lábios o sorriso, porque todas as dores parecem menores se, tal como uma criança, nos conseguirmos espantar por ver o sol nascer, por ouvir o restolhar das folhas das árvores, por ver um bosque digno de conto de fadas; e na voz a vontade de ir mais além, de alcançar... de ME alcançar!

"Raia a manhã, é mais um dia.
O frio da madrugada gela a ponta do nariz.
Sacode o sono, é este o dia!
Mochila às costa, tens o mundo a descobrir!..."

[é uma semana, mas "estes dias serão mil anos nas contas da 'nossa' vida."]. "
(Rita)