quarta-feira, 29 de setembro de 2010

E eis que chegam a Espanha!

É verdade, já meio caminho está para trás.
Depois de t-shirts deixadas para trás em Ponte de Lima, jantares interculturais e uma noite descansada em Valença, os nossos peregrinos pisam hoje terras espanholas.

O cansaço começa a chegar e as penas e dores também fazem parte do conjunto, mas a motivação não desaparece nunca e passo a passo lá vão eles.

Já que as fotos não chegaram a bom porto, ficam as frases do dia:

"Zombie peregrino."

e

"Pelegrina de la vida"

As explicações chegarão a seu tempo.

Por ora deixo-vos um poema que espero que os acompanhe:

Pelo sonho é que vamos

Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.

(Sebastião da Gama)

Sempre,
Rita, a Porta-Chaves

domingo, 26 de setembro de 2010

E eis que nos chegam novidades dos nossos caminhantes!

Ontem chegaram até S.Pedro de Rates onde pernoitaram, já passaram na Pedra Furada onde ainda não constam as nossas fotos mas já há novas para acrescentar ao álbum :)

Barcelos está para trás e hoje a esta hora já descansam os nossos peregrinos no acolhedor albergue de Tamel. O desafio para amanhã é chegar a Ponte de Lima.

Contam-nos que as bolhas já tiveram o destino que mereciam e que tudo corre pelo melhor.

Resumem a etapa de ontem em:

"Hoje andamos pelos caminhos paralelos de Santiago!"

E a de hoje em:

"Canta que é mais fácil!"

Sem dúvida, já há muito tempo se diz que quem canta seus males espanta o que é especialmente verdade no caminho. Enquanto nos preocupamos em acertar nas notas e na letras, as bolhas e joelhos inchados caem no esquecimento.

Não se esqueçam:

"Andar é desfazer-se até ficar inteiro...!"

Bom caminho!

Ultreya!

Rita, a Porta-Chaves

sábado, 25 de setembro de 2010

Peregrinos a caminho...!


Hoje pela manhãzinha, bem cedo, à porta da Igreja Matriz de Aldoar duas mochilas se puseram às costas, duas cabeças se desligaram do quotidiano e quatro pernas se puseram a caminho. Destino? Não poderia ser outro... SANTIAGO!

É ano santo e não podiam de deixar ir, era agora ou nunca e lá vão eles de cabeça erguida a passos firmes e confiantes.
Pelas 10h da manhã já Mosteiró (Maia) estava à vista e a pernoita será no novo albergue de S.Pedro de Rates.

Com alguma inveja saudável, cá ficamos com a certeza que uma semana cheia das belezas do Caminho se apresenta à frente dos nossos amigos: Filipe, el Mágico e João Gomes (esperamos a alcunha deste que certamente a seu tempo surgirá).


Estou certa que Aldoar deixará marcas no Caminho Portu2guês pela segunda vez este ano e que tudo correrá pelo melhor (apesar de ter ouvido há pouco: "Será que pus cuecas na mochila? Não me lembro de ter posto...")

Cá esperamos frases do dia e novidades destes "errantes peregrinos em busca de um destino".

Rita, a Porta-Chaves

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

6ª. Etapa: de Porriño a Pontevedra

Já foi há tanto tempo que até já esqueci algumas das peripécias do trajecto!
Passadas as longas e húmidas etapas anteriores, mais embrenhados Galiza dentro, continuámos o nosso Caminho rumo a Santiago.
Aqui, nesta fartura de marcos, demos largas à imaginação e cada qual escolheu o que mais lhe agradava para a fotografia.



Manhã fresca, com alguma neblina resultante da muita chuva (aqui também se diz "tchuba" como em Trás-os-Montes...) que caira nos dias anteriores.



Naquele tempo era "isto" o mais próximo do GPS!






A Ria já se vislumbrava ao fundo e exteriorizava-se a alegria aproveitando coisas mesmo até insignificantes. Aqui era o sapato gasto e desprezado que a Rosário encontrara no caminho e transformara no seu talismã, que a acompanharia até Santiago, orgulhosamente hasteado no alto do bordão...

Em Redondela subimos à igreja de Nossa Senhora do Caminho, a primeira construída no Caminho Português de Santiago.
O Sr. Abade fez questão de carimbar e rubricar cada uma das nossas credenciais.




A igreja é de um gótica simples mas belo e a talha faz recordar a de João de Ruão que enfeita a Sé Velha de Coimbra.
Após termos saído da igreja recebemos a bênção do Cura de Pontecesures que calhou passar por ali. Recebemos mas não todos porque as duas meninas que tinham mais pressa de chegar puseram-se ao fresco antes de nós, não sabiam o caminho, perderam-se e andaram mais uns dois bons quilómetros até que voltámos a juntar-nos. Nesta localidade mais uma vez pudemos comprovar a internacionalização do FCP, uma naçón...
Foi nesta ponte que voltámos a juntar-nos os sete.
Enquanto esperava pelo pessoal deambulei por ali, subi por um percurso medieval, rota de caminheiros, mirei as ruas, as casas e os quintais, e tirei fotos para a posteridade à paisagem e ao
artesanato que encontrei.


A fome já nos roía as entranhas! Procurámos e demos com uma casa, meio-restaurante meio-café, onde se arrumavam já as tralhas para celebrar Semana Santa. De comer, nada!... Sensibilizada a dona, para amealhar mais uns dons para o Céu, vendo que éramos uns pobres peregrinos esfomeados sem pão nem peixe, dispôs-se a sacrificar uns ovos, duas patatas e uma lasca de cebola e apresentou-nos este pitéu que, dividido por sete, fez o efeito dos cinco pães e dois peixes do Evangelho... Reconfortados, seguimos até ao destino do dia que era Pontevedra. Mas ainda nos esperavam mais duas surpresas: a primeira foi à chegada ao albergue - estava cheio!... Mandaram-nos aguardar a chegada de batedores para nos dirigirmos ao ginásio de um colégio, um quilómetro mais adiante. Ficávamos, assim, privados de uma refeição quente a preço acessível num dos restaurantes da zona do albergue, e de cozinha como alternativa. Só nos restou acatar, adaptarmo-nos à contrariedade, e aboletarmo-nos no tal colégio que fica mesmo no centro da cidade.
Banho tomado, vestidos a preceito, decidimos procurar onde petiscar qualquer coisa merecedora de dia de festa. Por um lado, de jejum já bastara o que fizeramos durante o dia, por outro tínhamos de festejar os anos de um companheiro. Seguimos o cheiro e desembocámos numa zona superpovoada de noctívagos: eram vários os restaurantes que serviam tapas e manjares de todo o género mas nenhum ao nível do que precisávamos. Acabámos por nos contentarmos com uma trivial pizza acompanhada de sumo e cerveja a copo!... O champanhe teve de esperar!

Regressados ao ginásio, fizeram-se as últimas massagens e consertos nos pés antes de nos estirarmos nos colchões espalhados no pavimento, e dormimos sem pensar sequer que estávamos assim tão perto do chão...




C.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

5ª. Etapa: Valença -

Deixámos Valença numa manhã húmida mas animados da certeza de que daí em diante apenas teríamos de gerir O Caminho.



Depressa atingimos a cidade de Tui. Nem imaginávamos o que nos esperava dentro de momentos...





Deixámos esta linda ponte à nossa direita e embrenhámo-nos num bosque, seguindo as setas...


Íamos bem, pela Via Romana XIX, a mesma que calcorreámos a caminho de Barcelos, em Ponte de Lima, e na Labruja. Só que, de vereda em vereda fomos dar a um bosque cheio de silvados e sem saída!
Sem paciência para voltar atrás para não termos de repetir os charcos e os caminhos enlameados por onde tínhamos passado com certa ginástica, decidimos procurar uma saída que nos levasse novamente ao caminho certo.



Demos com a via férrea, e foi por ela que encontrámos uma saída que nos levou a um pequeno povoado dos arredores de Tui. Chovia a bom chover quando vislumbrámos espreitando por cima de um portão uma dona de casa que passava a ferro na sua cozinha térrea. Fizemos-lhe sinal e, no meio da chuva e tudo, deu-nos a preciosa indicação de que precisávamos.
Voltámos a encontrar a rotunda e daí em diante "borrifámo-nos" para as setas que nos tinham conduzido ao engano, passámos a Senhora da Boa-Viagem e lá seguimos pelo caminho correcto.


Por estradas e bosques lá seguimos, fustigados de vez em quando pela chuva que insistia em não nos deixar. A paisagem, ainda pouco viçosa no alvor da Primavera, abundava em água corrente que enchia os rios e ribeiros e deles transbordava de vez em quando.



Conforme a origem das águas, assim era a sua côr. Como decorreria o nosso Caminho até final? Eis a incógnita que o ribeirito parecia apresentar.

Mais pontes e mais água...


A companhia diversificava dando um tom insólito ao nosso Caminho.


Recolhidos naquele repouso no meio do bosque, cavalos, cavaleiros e nós peregrinos, aproveitámos para descansar e para fazer uma frugal refeição.


Aquela quase que interminável recta do Porriño derivou para um meandro, às vezes muito lamacento, que nos obrigava a ladear cada vez mais o percurso anteriormente trilhado por outros peregrinos. Seguiamos por entre carvalhos e castanheiros.


Às vezes as dificuldades tornavam-se bem palpáveis e visíveis...



Assim chegámos ao Porriño. As igrejas preparavam-se para as cerimónias da Semana Santa.



E alguns paregrinos puderam tratar devidamente as suas mazelas devidamente assistidos no Centro de Sanidad.

Fomos às compras para a refeição da noite e para a manhã do dia seguinte. Dormiu-se bem naquela noite, no albergue da localidade. Quando acordámos uma pequena surpresa estava guardada para um dos presentes, tão estimada e agradecida que ainda hoje aqui está:


(Continua...)
C. (um peregrino)