sexta-feira, 2 de maio de 2008

Peregrinação a Santiago

Caminho Francês
24.03.2008 a 30.03.2008

No princípio a Rita lançou o repto:
-Vamos a Santiago!... Quem vai?

E começaram as respostas. Iniciaram-se os preparativos, acertaram-se os pormenores e, na data aprazada, e apenas com uma hora de atraso sobre a prevista, às 07,00 horas arrancámos de automóvel rumo a Sarriá para dali iniciarmos o troço deste Caminho.


Antes da partida pedimos ao Espírito Santo luz para o nosso Caminho; a Rita abriu o Novo Testamento em Carta aos Colossenses, 3,18:

“Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor.
Maridos, amai as vossas esposas e não vos exaspereis contra elas.
Filhos, obedecei em tudo aos pais, porque isso é agradável no Senhor.
Pais, não irriteis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.”

Esta primeira leitura caiu como sopa no mel: então não era dirigida a todos nós?

A viagem demorou um pouco mais do que esperávamos o que não permitiu a partida de Sarriá às 10,30 ou 11,00 horas.
Porque o albergue estava encerrado e só abria às 14,00 horas, decidimos antecipar o nosso almoço e aguardar a sua abertura para carimbar as credenciais. Abriram-se os farnéis e comeu-se ali mesmo junto às viaturas.



Após termos tirado as fotos da praxe junto ao Albergue, iniciámos a caminhada.

O destino do dia era Portomarín, à distância de 22 Km. O percurso decorre por entre matas e prados e apresenta algumas subidas. É um caminho calmo e cheio de verde. O tempo apresentava-se casmurro e logo à partida nos prendou com as primeiras bátegas. O atraso era evidente mas conseguimos chegar bem dentro da hora de entrada no albergue, ao lusco-fusco.




No percurso fizemos algumas paragens, e, logo na primeira, encontrámos um senhor suíço, de Zurique, e um grupo de Coimbra que iria iniciar o Caminho a partir dali no dia seguinte. Com eles confraternizámos e compartilhámos o “nosso” Porto.



Primeiros encontros, primeiras amizades.


E meditámos um pouco...


Do Céu vinha-nos a Luz que apontava o o fim deste Caminho.

E ao lusco-fusco estávamos à entrada de Portomarín...

Na entrada em Portomarín atravessámos o Rio Minho, sobre o qual existem três pontes: uma medieval normalmente submersa mas que estava visível nesta época pelo facto de a albufeira estar muito em baixo, outra moderna, e a última metálica e só para peões. Atravessámos a segunda e, após certa indecisão, optámos por não subir uma escadaria que nos levaria directamente à cidade – porque não conhecíamos o local – e contornámos pela estrada.



Estávamos um pouco cansados, e a Sofia e a Marta, mesmo assim, arranjaram paciência e ciência para umas salutares massagens que, diga-se em abono da verdade, serviram para o resto do Caminho!...

O albergue estava quase que lotado. Bem tentámos desenvencilhar-nos todos no meio daquela balbúrdia de espanhóis, alemães, franceses, mas, quando pensávamos que tínhamos resolvido o nosso problema com alguns a dormir no chão da camarata e outros a partilhar o mesmo beliche (as jovens que ocupavam menos espaço), dois espanhóis vieram estragar o arranjinho e chutar-nos dali para fora. Acabaram por dormir cinco no chão do corredor de acesso à camarata. Mas parece que dormiram bem mesmo assim…

E, passada a tarde e a noite, veio a manhã: foi o primeiro dia.

2 comentários:

Marta disse...

Não sei, muitas vezes, como descrever o primeiro dia; dentro de um turbilhão de sentimentos, numa ansiedade onde cabiam medos, expectativas, saudades, esperanças...
Quando nos fizemos à estrada, em Sarria, e começámos a subir aquela rua debaixo dos primeiros pingos de chuva, apercebi-me que o que estava(mos) a fazer era bem maior do que alguma vez tinha imaginado, e que o esforço físico seria penoso, mas que o verdadeiro desafio estava na dimensão psicológica, na minha auto-estima, no meu auto-conceito, nos meus valores, capacidades, na minha maneira de ver e fazer as coisas, na minha capacidade de ajudar os outros, de não pôr os meus problema em primeiro lugar, o verdadeiro desafio estava na maneira como iria encarar viver não comigo mesma, mas com e para mais sete pessoas e dar-me a elas, aceitando-os a eles como se, desde sempre, tivessemos partilhado os momentos mais intensos das nossas vidas!
o Caminho é intenso, é doloroso, é penoso física e psicologicamente, o Caminho é o encontro de algo grande, muito grande através dos mais pequenos pormenores, dos mais ínfimos e talvez "banais" momentos que vamos vivendo ao longo do caminhar..

Ao subir aquela rua e, logo de seguida, descer uma outra que até assustava, enquanto caminhava por trilhos enlameados (e não só...) ia-me apercebendo que, mesmo que tentasse, não conseguiria nunca descrever, na sua totalidade, tudo o que apreenderia com o Caminho. e é verdade, não sou capaz de transmitir por palavras o que trouxe de volta.
"Um sorriso é mais do que suficiente", e é com um sorriso que respondo quando me perguntam "como foi?" ou "o que sentiste?"...

Não me quero alongar, e sinto até que me perdi nas palavras e não consegui levar o raciocínio do inicio ao fim.. mas, afinal de contas, estou a falar do Caminho... de que importa ter um fio condutor se nos perdemos nas milhares de lembranças e momentos que SÓ NÓS, peregrinos, podemos saber?!

um beijo,

eu :)

Anónimo disse...

hoje o cansaço e o sono não permitem que possa partilhar um pouco do meu primeiro dia, mas fica a promessa de que o farei!

Para já, beijos para vós!