quarta-feira, 21 de abril de 2010

4ª. Etapa - de Ponte de Lima a Valença

Foi esta a mais bela etapa de todo o percurso. E foi esta a primeira noite em que dormimos num albergue a sério, com comodidades que a limitação dos nossos horários nem permitiu que experimentássemos. Para quem quiser saber mais aceda à página correspondente, aqui impressa.
Naquele dia até precisávamos duma pousada assim: havia queixas de alguns que nos obrigaram a ir à farmácia, a Sofia aproveitou para fazer um pouco de renda nos seus pezinhos que ficaram lindamente bordados, com franjas e tudo. Fizémos compras para o jantar, que deu até para oferecer.

Como se vê, a Lara já não estava no grupo pois decidira em Barcelos dar um salto no percurso e reiniciar o caminho a partir de Valença, como era sua intenção inicial fazer. Mas os três brasileiros que se nos juntaram quase que a fizeram esquecer. Quase, porque esteve sempre connosco.

No princípio o caminho até parecia uma espécie de avenida que nem dava para sonhar o que aí vinha.


Metros adiante já era assim: tivemos de desviar do caminho para as propriedades vizinhas porque aquele estava pura e simplesmente intransitável; era mais a água que o piso...

O caminho e o rio eram uma e a mesma coisa...

Por entre ramadas lá fomos passando onde podíamos, enganando o caminho. Não fomos sozinhos a passar por ali, mas decerto que aquele não é bem o traçado do Caminho Português!

E, já na Labruja, com rápidos e cascatas que não podem ser agora aqui mostradas porque a fotógrafa que transportava a máquina se esqueceu de a disparar, surgiu também este acréscimo de dificuldade, remedeio da Câmara, ele próprio também já arruinado pelos temporais, sobrepondo-se a um rio caudaloso e ameaçador que certamente não pouparia quem ali escorregasse...

Para compor as coisas vivemos cenas de certo bucolismo, em contacto directo com a realidade do campo.
Ao ver esta foto nem sei se fica mais linda a Jú se as vaquinhas!


Reencontrando dois amigos de outras peregrinações, na Senhora das Neves, depois de uma pausa num café simpático, antes de nos afoitarmos monte acima até Rubiães. "Olhem que até Rubiães não há mais nada!", tinham-nos dito. Depois vimos que não era bem verdade, mas quase...

à entrada de uma aldeia, a "Fonte das Três Bicas". Ali bebemos.

Embrenhados na mata, o lodo continua.

Mas também aparece água cristalina em abundância e sem contador. Fresquinha e boa!... Que o diga a Sofia.

Retemperados com o manancial fresquinho atacámos o caminho (!...) por onde dizem que os Romanos traçaram a sua Via Militar XIX. Nem sei como subiam aquilo com os carros pois nem é muito fácil fazê-lo a pé.

E a saga continuou por fragas, pedras, raízes, tudo a dificultar a ascensão naquela terra, a caminho do nosso céu que, naquele momento seria o de uma via plana, macia, através de relva fresca ouvindo o trinar das avezinhas e o som da água (ao lado...) cascalhando no seu leito, céu que não havia meneira de se materializar.

Chegados ao topo pensávamos que dali em diante seria só descer. E começámos de facto a descer por um caminho que era cópia invertida do que deixáramos para trás.

No início deste dia, e numa das primeiras poças que encontrámos, o Fábio achou que não seria bonito continuar sem marcas do caminho e, sem saber bem como, deu consigo no charco. Danado com ele mesmo porque, como dizia, ali nem era sítio para alguém cair, fez grande parte do percurso a pensar naquilo.
E também eu pensei nele ao chegar à pedra que vem a seguir:
"Ao passar aqui o Fábio devia pensar que esta pedra..." Pum!... Nem terminei o pensamento porque o resto exemplifiquei-o ali mesmo!...
Grande trambolhão! O que vale é que a mochila é de muita utilidade nestes casos e ampara a queda.

Como diria o "nosso amigo" Prof. Hermano Saraiva, "...foi aqui, precisamente aqui..."

Finalmente, Rubiães com a sua igreja românica, e o seu albergue, onde aproveitámos para descansar um pouco.

Deserto de gente, portas abertas, um verdadeiro refúgio de montanha...


A caminho de Coura, surge esta magnífica ponte romana e estes açudes a fazer lembrar os do rio

Labruja e os seus rápidos.

S. Bento da Porta Aberta. Em tempos deve tê-la tido sempre aberta. Agora estava fechada, o que não impediu de lhe fazer uma visita pelo lado de fora, rodeando a igreja.

A tal via romana XIX mostrava-nos outras das suas facetas num percurso cavado monte abaixo, que não deixava de ser pitoresco, ou, noutros sítios, como o que se vê na foto seguinte, em que os

peregrinos parecem bandeirantes rompendo a selva por entre silvas, ramos e cascalho...
Finalmente, depois de uma aproximação retardada pelo desejo de apressar a chegada que tardava (é já ali!...), lá entrámos em Valença.

Dirigimo-nos ao Albergue, que na cidade se encontra muito mal assinalado (!), e retemperámos forças para, no dia seguinte, passarmos ao outro lado, sabendo que, quem tivesse chegado a Valença também chegaria a Santiago. E assim foi.
C.

2 comentários:

Mariana, a Irónica disse...

Esta etapa tinha umas vistas lindas :)
E quem foi que ajudou o Carlinhos a levantar da pocinha quem foi?Pregou-me cá um susto!

Rita, a porta-chaves disse...

Ahah! Tantas boas recordações!

E que bem me soube rir um pouco mais ao recordar a queda do Fábio! :D

Mariana: Rita, achas que esperamos pelo Fábio?

Rita: Nah, não vale a pena! Ele faz isto na boa!

(segundos depois...)

SSPPLLLAASSHH!

Outra coisa que faltou dizer é que o carregador da máquina da Rita ficou logo em Rubiães, a carregar eternamente naquele albergue! Só na vinda é que o tive de volta!