Nem tudo eram rosas. A Manhã apresentou-se carrancuda, barulhenta e feia. De madrugada a chuva atroara os ares e os telhados do quartel de tal modo que assustaria um morto. O dilúvio parecia ter regressado à Terra naquele lugar de Barcelos.
Antes da saída preparámos as capas para o que desse e viesse. Mal saímos do quartel, pelas oito da manhã, alguns pingos apresentaram-se como que a dizer-nos que íamos ter companhia.
Tomámos o pequeno almoço num café e arrancámos. Durante a manhã a chuva deu-nos tréguas, e pudemos seguir por entre casas e casinhas, contornando propriedades e admirando jardins nos diversos lugares que atravessámos. As setas, às vezes, atiravam-nos para fora da estrada para nos obrigar a visitar uma igreja ou capela como a que está em baixo. Já sem a companhia da Lara mas com os três brasileiros que seriam quase que a nossa sombra para o resto do caminho, tirámos aqui uma linda e rara foto de conjunto.
Continuámos a subida, voltámos a descer, passámos a estação de Tamel (onde fizémos uma paragem para descanso, alimentção e abastecimento). Foi simpático o dono do estabelecimento. Vendeu e deu. Não quis dinheiro por uma garrafa de água, e deu-nos algumas guloseimas que, não sendo essenciais, ajudam a trilhar o caminho.
E a jornada foi-se gradualmente desenvolvendo, deixando para trás povoações pequeninas e aproximando-se de Ponte de Lima já por entre outras mais alargadas. Mas civilização nem sempre é sinónimo de ausência de ruralidade, e isso demonstram os encontros que tivémos, primeiro com o amigo Manuel, que preparou os bordões dos brasileiros no cabanal que serviu de paragem para descanso, estendal precário, e celeiro das rações do seu gado, e depois, a anónima que posou garbosamente para a posteridade ao lado da sua vaquinha de estimação (?).
Finalmente, transcorrido o parque, Ponte de Lima escancarou-nos a beleza das suas torres, igrejas, casas, da ponte, e do areal que naquele dia ainda estava pejado de plásticos e outras sobras da feira.
Peregrino é peregrino de qualquer lugar e em qualquer lugar. Cruzámos na ponte por duas sul-coreanas que seguiam para Santiago. Os Caminhos de Santiago são mesmo assim: da outra parte do Mundo para este, ampliando a dimensão das nossas coisas pequeninas que, deste modo, ganham outro tamanho e importância. A Ásia vem peregrinar à Europa que pretende apagar os nomes dos santos das nossas ruas, das nossas escolas, dos nossos hospitais, e, se pudesse, dos nossos corações!...
Ali chegados fomos às compras a um super, junto à estrada, e à farmácia, pois algumas companheiras tinham mazelas que pediam atenção. Que o digam os pés da Sofia que, findo o tratamento, pareciam o Caminho de Santiago em linhas!...
Foi o primeiro dia de cozinha: massa com carne picada, a gosto e jeito do Carlos. E todos gostaram. A quantidade é que ainda não estava bem afinada e a Sofia foi cozer uma segunda rodada de massa.
A noite foi santa, preparando o que pensávamos ser a grande prova, a etapa do dia seguinte dali até Valença.
2 comentários:
Cidade linda com um albergue espectacular, cheio de pessoas simpáticas! E tinha uma linda vista sobre o Lima! Tudo de bom =)
Beijinho
Oh sê Carlos! Continue lá as etapas por favor!!
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