sexta-feira, 16 de abril de 2010

3ª. Etapa - de Barcelos a Ponte de Lima

Ainda nos bombeiros a boa disposição e a boa forma para o caminho era evidente. As bolhas ainda não se tinham manifestado em pleno, a dieta ainda estava no princípio, e o jejum característico daquela semana abundava em rebuçados e chocolates...
Só o desgaste futuro do caminho poderia repor as coisas em ordem...

Em Barcelos: preparação para o caminho

Nem tudo eram rosas. A Manhã apresentou-se carrancuda, barulhenta e feia. De madrugada a chuva atroara os ares e os telhados do quartel de tal modo que assustaria um morto. O dilúvio parecia ter regressado à Terra naquele lugar de Barcelos.

Antes da saída preparámos as capas para o que desse e viesse. Mal saímos do quartel, pelas oito da manhã, alguns pingos apresentaram-se como que a dizer-nos que íamos ter companhia.

Tomámos o pequeno almoço num café e arrancámos. Durante a manhã a chuva deu-nos tréguas, e pudemos seguir por entre casas e casinhas, contornando propriedades e admirando jardins nos diversos lugares que atravessámos. As setas, às vezes, atiravam-nos para fora da estrada para nos obrigar a visitar uma igreja ou capela como a que está em baixo. Já sem a companhia da Lara mas com os três brasileiros que seriam quase que a nossa sombra para o resto do caminho, tirámos aqui uma linda e rara foto de conjunto.


Para mais tarde recordar
Subindo, subindo quase sempre mas em lanços bem disfarçados, atingimos um lugar de Tamel, junto a uma igrejinha, onde se situa o que vai ser a partir do dia 18 deste mês mais um albergue no Caminho Português.

O novo albergue de Tamel

Continuámos a subida, voltámos a descer, passámos a estação de Tamel (onde fizémos uma paragem para descanso, alimentção e abastecimento). Foi simpático o dono do estabelecimento. Vendeu e deu. Não quis dinheiro por uma garrafa de água, e deu-nos algumas guloseimas que, não sendo essenciais, ajudam a trilhar o caminho.
Este, mudava continuamente de aspecto: ora se apresentava asfaltado, ou agreste e rude, ou suave plano como uma almofada de saibro, ou vetusto e austero como esta calçada romana, mais um troço em bom estado da Via Militar XIX. Às vezes estes troços ligam directamente a uma ponte romana, como aque se vê na imagem seguinte.
Um troço da Via XIX


Na ponte romana: encontros inesperados

E a jornada foi-se gradualmente desenvolvendo, deixando para trás povoações pequeninas e aproximando-se de Ponte de Lima já por entre outras mais alargadas. Mas civilização nem sempre é sinónimo de ausência de ruralidade, e isso demonstram os encontros que tivémos, primeiro com o amigo Manuel, que preparou os bordões dos brasileiros no cabanal que serviu de paragem para descanso, estendal precário, e celeiro das rações do seu gado, e depois, a anónima que posou garbosamente para a posteridade ao lado da sua vaquinha de estimação (?).

Que sorte o Sr. Manuel ter ali paus a jeito



A vaquinha e a dona

Assim parando e conversando de vez em quando, queixando-se uns do comprimento da várzea que nunca mais acabava, deliciando-se outros com a natureza e com os habitantes que íamos encontrando, atingimos as margens do Lima, que, gordo, sobrava do leito e engolira a terra à volta de onde se viam sair inusitadamente os paus hirsutos das árvores gallhudas, ainda inverneiras...
Finalmente, transcorrido o parque, Ponte de Lima escancarou-nos a beleza das suas torres, igrejas, casas, da ponte, e do areal que naquele dia ainda estava pejado de plásticos e outras sobras da feira.
Ponte de Lima: a torre



Outro ex-libris de Ponte de Lima: na ponte, duas coreanas


Peregrino é peregrino de qualquer lugar e em qualquer lugar. Cruzámos na ponte por duas sul-coreanas que seguiam para Santiago. Os Caminhos de Santiago são mesmo assim: da outra parte do Mundo para este, ampliando a dimensão das nossas coisas pequeninas que, deste modo, ganham outro tamanho e importância. A Ásia vem peregrinar à Europa que pretende apagar os nomes dos santos das nossas ruas, das nossas escolas, dos nossos hospitais, e, se pudesse, dos nossos corações!...
O albergue de Ponte de Lima é bom, bonito, bem situado. Perguntaram-me na Galiza como eram os albergues em Portugal. Lembrei-me deste e respondi que "eram 5 **", que não ficavam em nada atrás dos que por lá existem. Pelo menos faz esquecer a falta de alojamento adequado em Vilarinho e Barcelos.

Ali chegados fomos às compras a um super, junto à estrada, e à farmácia, pois algumas companheiras tinham mazelas que pediam atenção. Que o digam os pés da Sofia que, findo o tratamento, pareciam o Caminho de Santiago em linhas!...

Foi o primeiro dia de cozinha: massa com carne picada, a gosto e jeito do Carlos. E todos gostaram. A quantidade é que ainda não estava bem afinada e a Sofia foi cozer uma segunda rodada de massa.

A noite foi santa, preparando o que pensávamos ser a grande prova, a etapa do dia seguinte dali até Valença.
C.

2 comentários:

Mariana, a Irónica disse...

Cidade linda com um albergue espectacular, cheio de pessoas simpáticas! E tinha uma linda vista sobre o Lima! Tudo de bom =)

Beijinho

Mariana disse...

Oh sê Carlos! Continue lá as etapas por favor!!