terça-feira, 26 de outubro de 2010

9ª. Etapa: de Téo a Santiago

Por entre a neblina que subia do chão húmido lá fomos a caminho do nosso destino, na tentativa de chegarmos à Missa do Peregrino. Era dia de Páscoa e não queríamos perder a cerimónia.

A]agua tinha sido tanta nos dias anteriores que alguns campos estavam completamente alagados. Aqui, este espelho de água bem o demonstra.



Nas proximidades de Santiago, junto ao rio, parámos a recordar a passagem de há quatro anos atrás.

E, por fim, chegámos!...
Perguntava a Jú num misto de curiosidade e de estranheza: já é Santiago?!...
Sim, já é Santiago.
Compreendeu então que tinha mesmo chegado ao fim. Baixou a cabeça sobre o bordão e ficou assim, parecia que vergada sob o peso da mole da imensa catedral que se erguia à nossa frente. A emoção era maior que aquela catedral…

Em torno daquela concha que não é mas até parece o ponto final do nosso caminho, fizemos a última oração da jornada unidos no destino dos nossos sete bordões que nos serviram de amparo.

Reencontrámos amigos…



Revisitámos a catedral.



Finda a Missa, que não foi a do Peregrino porque a fila não nos permitiu entrar na igreja antes do princípio mas foi a seguinte, fomos buscar a “nossa” Compostela à Oficina do Peregrino.



Com muito esforço, o Fábio lá conseguiu escrever o nome...

No final, ainda deu tempo para deambular pelas ruas da cidade e ver a preparação de algumas procissões das muitas que se desenrolam nesta quadra em Santiago.
Conquistada a cidade com tanto sacrifício, empenho e persistência, dá pena deixá-la sem mais nem menos. A nossa saudade impele-nos a continuar quase que indefinidamente…


Não é só a procissão que nos segura ali, é também o nosso desejo de não arredar!



Foi assim Santiago em 2010.



Tivémos de vir embora.
Santiago ficava para trás, com a sua Porta Santa e o ritual que envolve o Ano Santo Jacobeu.
Outro ano será outra história. Outra história que queremos bem passada e bem contada. Mas sempre, sempre trilhando O Caminho, aquele que cada um tem de descobrir por si e para si, ainda que com ajuda quando for necessária.

ULTREIA!
SUSEIA!
C.

sábado, 9 de outubro de 2010

8ª. Etapa: de Briallos-Portas a Téo


Em Caldas de Reys, continuámos a "nossa" Via-Sacra. E foi aqui, precisamente aqui, que meditámos na segunda queda de Jesus (e não só...). Para amaciar as feridas deu jeito aquela água quentinha que as bicas debitavam sem IVA...


Ainda em Caldas de Reys.


No meio da natureza, ouvindo o marulhar das águas saltitando nas pedras do leito do ribeiro e o trinar das aves, romantismo interrompido pelo ruído da passagem de alguns grupos de peregrinos cuja leveza das mochilas contrastava com o peso das nossas.




Em Carracedo apreciando as cruzes que aquele familiar do Isidro nos oferecia por pouco dinheiro.



A Igreja Matriz de Carracedo.



Em tempo de férias nunca se encontram as crianças. Chegados aqui, imaginamo-nos a tirar a nossa foto com a pequenada para a posteridade e para o seu blogue.

Pena foi estar fechada!





Mais à frente a surpresa! Na aldeia tínhamos perguntado pelo Isidro e não nos souberam dar conta dele, e eis que, numa curva do caminho mesmo à saída, num local já sem casas, aparece aquele personagem desconhecido.

Também ele vinha no seu caminho, no caminho fechado, pequenino, situado entre as leiras de Carracedo, da lide de cuidar da terra.

"Portugal?!... Ah!... Sois de Portugal? Eu xá fui a Portugal, a Valença. Sair? Na tropa fui para... mas a minha vida é aqui. Não, não saio de cá.

E lá viemos a descobrir no meio desta cavaqueira que o nosso interlocutor era nada mais nada menos que o Isidro que procurávamos!...

Continuou a conversa e desfilaram os versos naquela boca desdentada que parecia um compêndio que já tinha saído do programa...

Despedimo-nos com uma "boa tarde" ao que nos respondeu:

- Bom dia porque ainda não almocei!

O dia ia bem adiantado, seriam talvez umas 15,00 horas, mas, para o Isidro, o relógio regula-se pela hora do estômago e esse ainda estava bem abaixo do meio-dia!



Repetiam-se os encontros. As bicicletas deram o lugar aos cavalos, garbosos e imponentes.




E tudo veio desembocar naquela ponte onde já é habitual encontrar o posto de controlo e de apoio.

Voluntários tratavam pés e bolhas...





Mas a alegria gaiata do nosso grupo não nos abandonava mesmo depois de termos esbarrado na porta do albergue de Padrón. Estava cheio, por isso limitámo-nos a fazer ali uma curta paragem porque o seguinte era a mais dez quilómetros adiante...

Seguimos a caminho de Téo. O dia ia declinando mas as forças não esmoreciam. Com mais um pouco íamos directos a Santiago.

Atingimos Téo. Estava quase cheio com um grupo de peregrinos que trazia carro de apoio e que, por acaso, eram de Lisboa. As vagas não chegavam para todos mas decidimos esperar pelo Hospitaleiro para que nos encontrasse uma solução já que a localidade não tem mais nada que servisse de alternativa.

Pouco depois chegou mais um grupo, ruidoso, de galegos, com guia. Mesmo sabendo que não havia vaga decidiram ficar na esperança de que o Hospitaleiro pusesse fora os que haviam chegado antes.

Não assistimos à cena porque tínhamos ido às compras na viatura de apoio dos compatriotas de Lisboa que se prontificaram a ajudar-nos, mas soubemos depois que o guia se exaltou com o Hospitaleiro e este os mandou a todos embora. Assim ficámos no albergue com os nossos recentes amigos, que até nos queriam ceder as camas sabendo que tínhamos prioridade mas não aceitámos. Passámos a noite nos nossos colchões e sacos-cama.


Antes de nos deitarmos, tivémos um momento de reflexão em conjunto. Rezámos e cantámos em surdina para não acordar os que já dormiam.




Na meditação.












7ª. Etapa: de Pontevedra a Briallos

À saída do Colégio onde pernoitámos, em Pontevedra.


Em Pontevedra, na Igreja de Nª. Srª. do Caminho


Pontevedra: a Igreja de Nossa Senhora do Caminho


É Semana Santa: na Via-Sacra, o encontro de Jesus com Sua Mãe.


Saída de Pontevedra: a Ponte e alguns peregrinos.



No caminho, uma paragem para mais uma Estação da "nossa" Via-Sacra.


Com saudades da Rainha Santa Isabel que aqui pernoitou na sua viagem a Santiago, a Sofia e o Fábio deixaram um beijo ao hospedeiro.

Pouco depois, a água regressava em força e nem sequer nos deixava onde por os pés...


Foi preciso alguma ginástica para ultrapassar este ribeiro que tomou conta do caminho.


Ora vejam! Nem a arregaçar as calças me safo!...


E desta vez o Fábio não experimentou passar a vau!



Um grupo de ciclistas ultrapassou-nos na passagem da via férrea. Ainda que não pareça, continuava a chover.

A Jú e a Rosário, resignadas, viam os ciclistas passar enquanto nós nem sequer víamos o fim da etapa.
Pouco depois começaram a aparecer as casas e os quintais, "aquelas ramadas" que nos cobriam e... finalmente! Briallos!
Chão quentinho, casa aconchegada mesmo para o que precisávamos: tomar um banho quente e descansar.